A Lei de Kaldor-Verdoorn: Aspectos Conceituais e Teóricos
A discussão acerca da Lei de Kaldor-Verdoorn inicia-se justamente através de considerações sobre a importância do setor industrial para o crescimento econômico de um país ou região. Isto se dá porque, entre as manifestações mais importantes do processo de crescimento, merecem destaque as transformações que ocorrem ao longo do tempo na estrutura produtiva. Tais transformações provocam alterações bastante significativas na composição da demanda, aumentando a participação dos produtos manufaturados. Ademais, são maiores os estímulos para a adoção de novos processos produtivos e para a criação de novos produtos, gerando, assim, relevantes avanços no lado da oferta. Tal processo como um todo beneficia o crescimento da produtividade industrial de uma forma bem mais intensa que em outros setores.
Obviamente, o ganho de importância do setor industrial é apenas uma parte do processo de crescimento econômico. Mas, uma parte muito importante, deve-se salientar. Logicamente, a participação de outros setores neste processo não pode ser de forma alguma desprezada, como é o caso do setor de serviços. Entretanto, o argumento básico aqui desenvolvido é que, especialmente para os países subdesenvolvidos, um maior dinamismo da indústria é fundamental para estimular o crescimento econômico, pois este setor guarda uma inter-relação dinâmica com outros. O setor primário é um dos principais fornecedores de matérias-primas para a indústria. Já o desenvolvimento do setor de serviços (serviços financeiros, manutenção industrial, transportes, comércio etc.) apresenta uma elevada correlação com a evolução do setor industrial: os casos de diversos países desenvolvidos, em que o setor de serviços está em um estágio bastante avançado, tais como EUA, Reino Unido e Japão, parecem indicar. Assim, faz-se uma suposição básica de que o aumento da produção industrial ao longo do tempo deve ser considerado como um dos fatores relevante para se determinar o dinamismo de uma economia.
A partir desta idéia básica, pode-se constatar também que a produtividade do trabalho na indústria está intrinsecamente relacionada com o crescimento da produção. Quando a produção cresce, ocorrem, ao longo do tempo, relevantes transformações na estrutura produtiva e na composição da demanda. Tais transformações vêm a beneficiar a indústria, pois induzem a utilização de novos processos produtivos, bem como o surgimento de novos produtos, fatores essenciais para o crescimento da produtividade.
Mais especificamente no nível micro, quando a produção e a produtividade estão crescendo acima da média em um determinado setor, este movimento tende a ser associado com a queda dos seus custos relativos e, conseqüentemente, com a queda dos seus preços relativos, aumentando, assim, a demanda pelo produto em questão. Já no nível macro, quando todo o setor industrial de um país ou região é considerado, uma maior produtividade freqüentemente faz com que as exportações tornem-se mais competitivas, porque ficam mais baratas e/ou porque os produtos passam a apresentar um melhor nível de qualidade. Desta forma, mais exportações levam ao crescimento do produto industrial, na medida em que se eleva a demanda pelos produtos exportáveis, e isso tem um efeito indireto, pois o crescimento das exportações gera recursos adicionais para financiar as importações necessárias ao crescimento mais acelerado do produto. Adicionalmente, um nível mais elevado de produtividade pode, ainda, significar maiores lucros para as firmas, o que também pode afetar positivamente a demanda, na medida em que estas firmas podem investir mais.
Como Rowthorn (1975a) menciona, ‘uma maior produtividade na indústria pode estimular a demanda doméstica por produtos industriais, por torná-los relativamente mais baratos ou porque novos produtos são introduzidos no mercado. A maquinaria torna-se mais barata em relação ao trabalho, encorajando a adoção de técnicas mais mecanizadas. Os produtos industrializados tornam-se, então, mais baratos em relação a um grande número de serviços cuja produtividade cresceu lentamente, encorajando a substituição desses serviços por produtos industrializados”.
Além disto, há o surgimento de novas unidades empresariais e/ou a ampliação das existentes, o que possibilita o emprego de equipamentos mais modernos, possivelmente mais adequados às unidades produtivas de maior tamanho. Em decorrência disso, espera-se que haja uma relação direta entre o crescimento da produção e da produtividade. E isto é justamente o que propõe a chamada lei de Kaldor-Verdoorn (Verdoon, 1951, 1956, 1980, Kaldor, 1975, Rowthorn, 1975a,b, 1979).